Lomadee
sábado, 28 de março de 2015
Mauro Cabral recebeu a outorga de grau superior pela Universidade Federal do Pará.
terça-feira, 17 de março de 2015
Maquiavel ensinou como o governante deveria agir e quais virtudes deveria ter a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas
Conhecer sua trajetória como figura pública e intelectual é muito importante para que as circunstâncias nas quais este pensador pensou e escreveu tal obra sejam compreendidas. Maquiavel ingressou na carreira diplomática em um período em que Florença vivia uma República após a destituição dos Médici do poder. Contudo, com a retomada dessa dinastia, Maquiavel foi exilado, momento em que se dedicou à produção de “O Príncipe”. Esta sua obra seria, na verdade, uma espécie de manual político para governantes que almejassem não apenas se manter no poder, mas ampliar suas conquistas. Em suas páginas, o governante poderia aprender como planejar e meditar sobre seus atos para manter a estabilidade do Estado, do governo, uma vez que Maquiavel conta sucessos e fracassos de vários reis para ilustrar seus conselhos e opiniões. Além disso, para autores especializados em sua vida e obra, Nicolau Maquiavel teria escrito esse livro como uma tentativa de reaproximação do governo Médici, embora não tenha logrado êxito num primeiro momento.
Outro fator fundamental para se estudar o pensamento maquiaveliano é o pano de fundo da Europa naquele período, do ponto de vista das ideologias e do pensamento humano. Ao final da Idade Média, retomava-se uma visão antropocêntrica do mundo (que considera o homem como medida de todas as coisas) presente outrora no pensamento das civilizações mais antigas como a Grécia, a qual permitiu o despontar de uma outra ideia política, que não apenas aquela predominante no período medieval. Em outras palavras, a retomada do humanismo iria propor na política a “liberdade republicana contra o poder teológico-político de papas e imperadores”, como afirma Marilena Chauí (2008). Isso significaria a retomada do humanismo cívico, o que pressupõe a construção de um diálogo político entre uma burguesia em ascensão desejosa por poder e uma realeza detentora da coroa. É preciso lembrar que a formação do Estado moderno se deu pela convergência de interesses entre reis e a burguesia, marcando-se um momento importante para o desenvolvimento das práticas comerciais e do capitalismo na Europa. Assim, Maquiavel assistia em seu tempo um maior questionamento do poder absoluto dos reis ou de alguma dinastia, como os Médici em Florência, uma vez que nascia uma elite burguesa com seus próprios interesses, com a exacerbação da ideia de liberdade individual. Questionava-se o poder teocêntrico e desejava-se a existência de um príncipe que, detentor das qualidades necessárias, isto é, da virtú, poderia garantir a estabilidade e defesa de sua cidade contra outras vizinhas.
Dessa forma, considerando esse cenário, Maquiavel produziu sua obra com vistas à questão da legitimidade e exercício do poder pelo governante, pelo príncipe. A legitimação do poder seria algo fundamental para a questão da conquista e preservação do Estado, cabendo ao bom rei (ou bom príncipe) ser dotado de virtú e fortuna, sabendo como bem articulá-las. Enquanto a virtú dizia respeito às habilidades ou virtudes necessárias ao governante, a fortuna tratava-se da sorte, do acaso, da condição dada pelas circunstâncias da vida. Para Maquiavel “...quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte, ele se arruína logo que ela muda. Feliz é o príncipe que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos.” (MAQUIAVEL, 2002, p. 264).Conforme afirma Francisco Welffort (2001) sobre Maquiavel, “a atividade política, tal como arquitetara, era uma prática do homem livre de freios extraterrenos, do homem sujeito da história. Esta prática exigia virtú, o domínio sobre a fortuna”. (WELFFORT, 2001, p. 21).
Contudo, a forma como a virtú seria colocada em prática em nome do bom governo deveria passar ao largo dos valores cristãos, da moral social vigente, dada a incompatibilidade entre esses valores e a política segundo Maquiavel. Para Maquiavel, “não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtú pode consegui-los e por eles luta” (WELFFORT, 2006, pg. 22). Assim, essa interpretação maquiaveliana da esfera política foi que permitiu surgir ideia de que “os fins justificam os meios”, embora não se possa atribuir literalmente essa frase a Maquiavel. Além disso, fez surgir no imaginário e no senso comum a ideia de que Maquiavel seria alguém articuloso e sem escrúpulo, dando origem à expressão “maquiavélico” para designar algo ou alguém dotado de certa maldade, frio e calculista.
Maquiavel não era imoral (embora seu livro tenha sido proibido pela Igreja), mas colocava a ação política (construída pela soma da virtú e da fortuna) em primeiro plano, como uma área de ação autônoma levando a um rompimento com a moral social. A conduta moral e a ideia de virtude como valor para bem viver na sociedade não poderiam ser limitadores da prática política. O que se deve pensar é que o objetivo maior da política seria manter a estabilidade social e do governo a todo custo, uma vez que o contexto europeu era de guerras e disputas. Nas palavras de Welffort (2001), Maquiavel é incisivo: há vícios que são virtudes, não devendo temer o príncipe que deseje se manter no poder, nem esconder seus defeitos, se isso for indispensável para salvar o Estado. “Um príncipe não deve, portanto, importar-se por ser considerado cruel se isso for necessário para manter os seus súditos unidos e com fé. Com raras exceções, um príncipe tido como cruel é mais piedoso do que os que por muita clemência deixam acontecer desordens que podem resultar em assassinatos e rapinagem, porque essas consequências prejudicam todo um povo, ao passo que as execuções que provêm desse príncipe ofendem apenas alguns indivíduos” (MAQUIAVEL, 2002, p. 208). Dessa forma, a soberania do príncipe dependeria de sua prudência e coragem para romper com a conduta social vigente, a qual seria incapaz de mudar a natureza dos defeitos humanos.
Assim, a originalidade de Maquiavel estaria em grande parte na forma como lidou com essa questão moral e política, trazendo uma outra visão ao exercício do poder outrora sacralizado por valores defendidos pela Igreja. Considerado um dos pais da Ciência Política, sua obra, já no século XVI, tratava de questões que ainda hoje se fazem importantes, a exemplo da legitimação do poder, principalmente se considerarmos as características do solo arenoso que é a vida política.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
sábado, 14 de março de 2015
Alunos do FIES
Agora faltou no nosso meio o comediante Chapolin Colorado, "e agora quem poderá nos defender?" Essa é a triste realidade que o Brasil vive, o dólar já passou dos 3 reais e etc. Acreditamos que esse governo doente deve sair enquanto há tempo, pois se permanecerem o Brasil Limpo e Justo vai coloca-los na rua.
FIES JÁ! É O QUE SOLICITAM OS ESTUDANTES DO BRASIL
quinta-feira, 12 de março de 2015
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo
Em sua obra sobre educação, o pensador suíço prega o retorno à natureza e o respeito ao desenvolvimento físico e cognitivo da criança
O princípio fundamental de toda a obra de Rousseau, pelo qual ela é definida até os dias atuais, é que o homem é bom por natureza, mas está submetido à influência corruptora da sociedade. Um dos sintomas das falhas da civilização em atingir o bem comum, segundo o pensador, é a desigualdade, que pode ser de dois tipos: a que se deve às características individuais de cada ser humano e aquela causada por circunstâncias sociais. Entre essas causas, Rousseau inclui desde o surgimento do ciúme nas relações amorosas até a institucionalização da propriedade privada como pilar do funcionamento econômico.
O primeiro tipo de desigualdade, para o filósofo, é natural; o segundo deve ser combatido. A desigualdade nociva teria suprimido gradativamente a liberdade os indivíduos e em seu lugar restaram artifícios como o culto das aparências e as regras de polidez.
Ao renunciar à liberdade, o homem, nas palavras de Rousseau, abre mão da própria qualidade que o define como humano. Ele não está apenas impedido de agir, mas privado do instrumento essencial para a realização do espírito. Para recobrar a liberdade perdida nos descaminhos tomados pela sociedade, o filósofo preconiza um mergulho interior por parte do indivíduo rumo ao autoconhecimento. Mas isso não se dá por meio da razão, e sim da emoção, e traduz-se numa entrega sensorial à natureza.
terça-feira, 3 de março de 2015
O mito dos argonautas: Algumas compreensões psicanalíticas de grupo
Por: Cybele Moretto e Cíntia C. Vigiani Carvalho
Jasão nasceu no reino de Iolco e era filho do herdeiro do trono, Esão. Este foi destronado e condenado à morte por seu meio-irmão Pélias. Desde menino, Jasão experimentou as amarguras do exílio, pois foi enviado para longe de seus pais. Quando retornou à sua cidade natal, perto de seus vinte anos, vestia uma estranha indumentária: estava coberto com uma pele de pantera, calçava apenas uma sandália e tinha uma lança em cada mão.
Quando o rei, que era seu tio, o viu, ficou muito assustado, pois havia recebido do oráculo de Apolo uma previsão de que deveria desconfiar do homem que vestisse apenas uma sandália. Quando Jasão reclamou o trono, o rei impôs a condição de que daria posse do reino àquele que conquistasse o Velocino de Ouro. O Velocino de Ouro é o velo de um carneiro voador dado a Frixo, por Zeus, para salvá-lo de sua madrasta que desejava matá-lo. Frixo chegou são e salvo ao seu destino, sacrificou o animal voador e ofereceu o velo de ouro ao rei. Este o consagrou ao deus e cravou-o num carvalho no bosque sagrado do deus da guerra.
Jasão então convocou um arauto através de toda a Grécia e mais de cinqüenta heróis apareceram para a missão, dentre eles Hércules. O navio Argo foi lançado ao mar em uma cerimônia solene.
Podemos partir da etimologia da palavra “grupo” como forma de compreender o Mito dos Argonautas. Encontramos no antigo vocábulo “group” (laço ou nó) derivado do germano ocidental “kruppa” (massa circular), a consideração de duas linhas de força: o laço demonstrando a união e o círculo representando o espaço fechado, cuja metáfora é envoltura corporal e o corpo materno. Desta forma, uma das características de um grupo é a possibilidade de oferecer um espaço que acolhe seus participantes e também poder provocar sentimentos de aprisionamento e frustração (Anzieu, 1966).
No Mito podemos observar estas duas linhas de força: o grupo que se une em torno de um objetivo único, encontrar o Velocino de Ouro, causando sentimentos de auto-estima e importância; e também gerar sentimentos de sufocamento em seus membros a partir do momento em que aceitaram a proposta de embarcar no navio Argo. O grupo enfrentará sentimentos de frustração constante e os membros não poderão “abandonar o barco”.
O psicanalista Bion (1961) diz que todo grupo de pessoas que se reúne para qualquer tarefa tem um funcionamento mental voltado para a execução do trabalho especificado. Porém, os objetivos do grupo também são às vezes interrompidos ou ocasionalmente promovidos por emoções inconscientes. Bion acredita que ansiedades psicóticas extremamente primitivas estão presentes nos grupos e os supostos básicos seriam formas do grupo defender-se dessas ansiedades. A partir disto, o autor formulou três suposições básicas presentes em todo grupo humano: o suposto de dependência, o suposto de luta e fuga e o suposto de acasalamento.
Inicialmente, podemos referir o Mito dos Argonautas ao suposto de dependência, quando para se reunir o grupo de heróis depende da figura central de Jasão. Este reúne o grupo e propõe uma tarefa: conquistar o Velocino de Ouro.
Para Bion, no suposto de dependência o líder é o centro de um culto em pleno poder, uma estrutura grupal em que um dos membros é um deus, uma teocracia em miniatura. É esperado de o líder assumir a posição de suprir as necessidades e fornecer amparo para o grupo imaturo, o qual permanece na posição de ser saciado completamente. Neste grupo, o líder é um ser que existe para providenciar que nenhum acontecimento desagradável seja causado pelas irresponsabilidades dos membros.
Dentre as diversas paradas do navio, em uma delas, o herói Hilas foi atraído por belas ninfas e arrastado para as profundezas das águas. Hércules e Polifemo foram à sua busca fazendo-os perder a expedição.
Na parada seguinte, o grupo encontrou um gigante que desafiava e matava a soco os que insistiam passar por ele. Um dos heróis, com sua habilidade e astúcia, venceu o gigante, fazendo-o prometer respeitar os estrangeiros.
Uma das maiores aventuras ocorreu quando os heróis tiveram que ultrapassar os Rochedos Azuis. Estes eram dois recifes móveis que se fechavam violentamente quando qualquer coisa ousasse passar em seu meio, esmagando o que quer que fosse. Entretanto, estes sabiam que se deviam fazer preceder por uma pomba, se ela conseguisse cruzar os rochedos, eles também conseguiriam. A pomba conseguiu cruzar a salvo, mas foi atingida em suas penas finais, sendo cortadas. Assim, a nau também conseguiu efetuar a travessia, mas ao final a popa do barco foi ligeiramente atingida. Após essa passagem os rochedos se imobilizaram, pois quando algum navio conseguisse ultrapassá-los, eles jamais se fechariam.
Chegaram enfim à Cólquida. Jasão então se dirigiu à corte de Eetes, pai de Calcíope, Medéia e Apsirto e disse a que vinha. Eetes prontificou-se a devolver-lhe o velocino, mas propôs ao herói quatro tarefas que deveriam ser realizadas num único dia, de sol a sol e eram impossíveis de ser realizadas por qualquer humano. A primeira era por o jugo em dois touros bravos, que lançavam chamas pelas narinas e atrelá-los a um charrua de diamante; a segunda era lavrar com eles uma vasta área e semear dentes de um dragão, matar os gigantes que nasceriam desses dentes; e finalmente eliminar o dragão que guardava o velocino, no bosque sagrado do deus da guerra. Jasão estava pra desistir quando surgiu Medéia, que era mágica e apaixonara-se por ele. Jasão prometeu casar-se com ela e levá-la para Grécia e então, ela lhe ofereceu os recursos para vencer as provas: um bálsamo que o tornava invulnerável ao ferro e ao fogo e truques para distrair os dragões. Medéia, com sua mágica, fez dormir o dragão que guardava o velocino e Jasão o atravessou com sua lança.
Entretanto Eetes se recusou a possibilitar a saída com o velocino. Jasão e Medéia então fugiram, e o navio retornou quatro meses após a partida.
O suposto de luta ou fuga, de Bion, por sua vez, pode ser representado pelos Argonautas e seu líder Jasão nas inúmeras situações que eles enfrentam perigos e inimigos que precisam combater ou deles fugir.
Para o autor, este suposto opera contra algo a que o grupo percebe vagamente como tais inimigos. O líder considerado adequado é aquele que protege e mobiliza o grupo para atacar ou fugir.
Podemos encontrar neste Mito, também, o suposto básico de acasalamento. Surge o sentimento de esperança, de que algo está por vir e a atenção se volta para o futuro, será uma pessoa ou uma idéia que salvará o grupo. No caso do Mito, o Velocino de Ouro simboliza o divino, a salvação e purificação, pois é resultado de sacrifícios e dificuldades. Surgirá o sentimento de esperança que salvará o povo e devolverá o reinado ao seu verdadeiro herdeiro.
Bion também formula o conceito de grupo de trabalho (grupo T), ou evoluído, que se opõe ao grupo (ou momentos do grupo) dominado pelos supostos básicos. Estes fenômenos (grupo de trabalho e supostos básicos) são próprios da realidade de grupo. O grupo T reconhece a necessidade da compreensão e do desenvolvimento e ao longo de seu desenvolvimento se sobressai, a despeito das interferências das emoções regredidas.
No Mito dos Argonautas, o grupo evoluído se sobressai, os membros conseguem realizar sua missão e obter êxito, conquistando o desejado troféu.
Uma das versões conta que ao retornar, Jasão entrega o Velocino de Ouro ao seu tio, Pélias, que não lhe concede o trono. Medéia então convence as filhas do rei que se o esquartejassem e o cozinhassem em determinada poção mágica, este rejuvenesceria. As filhas do rei assim fizeram e quando perceberam que o pai não ressuscitava, fugiram. E Jasão e Medéia foram banidos do reino.
Anzieu (1966) parte da perspectiva do grupo como objeto de investimento pulsional propondo a analogia do grupo com o sonho, dizendo que o desejo realizado no grupo e no sonho é um desejo reprimido no dia anterior. No entanto, o desejo realizado no grupo e no sonho é, também, um desejo reprimido de infância, pois o contexto grupal promove uma regressão de seus membros. Além disso, o desejo, no grupo e no sonho, diz mais respeito ao desejo fixado em um sintoma ou uma estrutura patológica que ao desejo emergindo do inconsciente.
Este universo da realização do desejo está em estreita relação com aquilo que o autor identificou como ilusão grupal que para ele é um estado psíquico particular que se observa em todo grupo humano e que os integrantes expressam como um sentimento de integrarem um bom grupo e tendo um bom líder. Os argonautas simbolizam esta formulação de Anzieu, pois o grupo se une e é formado por heróis, todos são bons e têm um líder bom.
Segundo Terzis (1996), o grupo é o meio que instrui os participantes nos procedimentos e nas regras, que ensina, que pensa, num espaço e tempo comuns com determinados objetivos. Representa o filtro para as emoções e pensamentos e pode ter a representação do corpo materno, pois se observa que o indivíduo apega-se ao grupo como se apegava ao corpo da mãe.
No Mito, o grupo permanece coeso, unido e forte e alcança seu objetivo. Seus membros apegaram-se ao grupo, se sacrificaram e deram a vida por ele.
Uma das maiores aventuras ocorreu quando os heróis tiveram que ultrapassar os Rochedos Azuis. Estes eram dois recifes móveis que se fechavam violentamente quando qualquer coisa ousasse passar em seu meio, esmagando o que quer que fosse. Entretanto, estes sabiam que se deviam fazer preceder por uma pomba, se ela conseguisse cruzar os rochedos, eles também conseguiriam. A pomba conseguiu cruzar a salvo, mas foi atingida em suas penas finais, sendo cortadas. Assim, a nau também conseguiu efetuar a travessia, mas ao final a popa do barco foi ligeiramente atingida. Após essa passagem os rochedos se imobilizaram, pois quando algum navio conseguisse ultrapassá-los, eles jamais se fechariam.
Chegaram enfim à Cólquida. Jasão então se dirigiu à corte de Eetes, pai de Calcíope, Medéia e Apsirto e disse a que vinha. Eetes prontificou-se a devolver-lhe o velocino, mas propôs ao herói quatro tarefas que deveriam ser realizadas num único dia, de sol a sol e eram impossíveis de ser realizadas por qualquer humano. A primeira era por o jugo em dois touros bravos, que lançavam chamas pelas narinas e atrelá-los a um charrua de diamante; a segunda era lavrar com eles uma vasta área e semear dentes de um dragão, matar os gigantes que nasceriam desses dentes; e finalmente eliminar o dragão que guardava o velocino, no bosque sagrado do deus da guerra. Jasão estava pra desistir quando surgiu Medéia, que era mágica e apaixonara-se por ele. Jasão prometeu casar-se com ela e levá-la para Grécia e então, ela lhe ofereceu os recursos para vencer as provas: um bálsamo que o tornava invulnerável ao ferro e ao fogo e truques para distrair os dragões. Medéia, com sua mágica, fez dormir o dragão que guardava o velocino e Jasão o atravessou com sua lança.
Entretanto Eetes se recusou a possibilitar a saída com o velocino. Jasão e Medéia então fugiram, e o navio retornou quatro meses após a partida.
O suposto de luta ou fuga, de Bion, por sua vez, pode ser representado pelos Argonautas e seu líder Jasão nas inúmeras situações que eles enfrentam perigos e inimigos que precisam combater ou deles fugir.
Para o autor, este suposto opera contra algo a que o grupo percebe vagamente como tais inimigos. O líder considerado adequado é aquele que protege e mobiliza o grupo para atacar ou fugir.
Podemos encontrar neste Mito, também, o suposto básico de acasalamento. Surge o sentimento de esperança, de que algo está por vir e a atenção se volta para o futuro, será uma pessoa ou uma idéia que salvará o grupo. No caso do Mito, o Velocino de Ouro simboliza o divino, a salvação e purificação, pois é resultado de sacrifícios e dificuldades. Surgirá o sentimento de esperança que salvará o povo e devolverá o reinado ao seu verdadeiro herdeiro.
Bion também formula o conceito de grupo de trabalho (grupo T), ou evoluído, que se opõe ao grupo (ou momentos do grupo) dominado pelos supostos básicos. Estes fenômenos (grupo de trabalho e supostos básicos) são próprios da realidade de grupo. O grupo T reconhece a necessidade da compreensão e do desenvolvimento e ao longo de seu desenvolvimento se sobressai, a despeito das interferências das emoções regredidas.
No Mito dos Argonautas, o grupo evoluído se sobressai, os membros conseguem realizar sua missão e obter êxito, conquistando o desejado troféu.
Uma das versões conta que ao retornar, Jasão entrega o Velocino de Ouro ao seu tio, Pélias, que não lhe concede o trono. Medéia então convence as filhas do rei que se o esquartejassem e o cozinhassem em determinada poção mágica, este rejuvenesceria. As filhas do rei assim fizeram e quando perceberam que o pai não ressuscitava, fugiram. E Jasão e Medéia foram banidos do reino.
Anzieu (1966) parte da perspectiva do grupo como objeto de investimento pulsional propondo a analogia do grupo com o sonho, dizendo que o desejo realizado no grupo e no sonho é um desejo reprimido no dia anterior. No entanto, o desejo realizado no grupo e no sonho é, também, um desejo reprimido de infância, pois o contexto grupal promove uma regressão de seus membros. Além disso, o desejo, no grupo e no sonho, diz mais respeito ao desejo fixado em um sintoma ou uma estrutura patológica que ao desejo emergindo do inconsciente.
Este universo da realização do desejo está em estreita relação com aquilo que o autor identificou como ilusão grupal que para ele é um estado psíquico particular que se observa em todo grupo humano e que os integrantes expressam como um sentimento de integrarem um bom grupo e tendo um bom líder. Os argonautas simbolizam esta formulação de Anzieu, pois o grupo se une e é formado por heróis, todos são bons e têm um líder bom.
Segundo Terzis (1996), o grupo é o meio que instrui os participantes nos procedimentos e nas regras, que ensina, que pensa, num espaço e tempo comuns com determinados objetivos. Representa o filtro para as emoções e pensamentos e pode ter a representação do corpo materno, pois se observa que o indivíduo apega-se ao grupo como se apegava ao corpo da mãe.
No Mito, o grupo permanece coeso, unido e forte e alcança seu objetivo. Seus membros apegaram-se ao grupo, se sacrificaram e deram a vida por ele.
Referências:
- ANZIEU, D. (1966) O grupo e o Inconsciente: imaginário grupal. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1990.
- BION, W. R. (1961) Experiências com Grupos os fundamentos de psicoterapia de grupo. Trad. de Oliveira, W.I., Rio de Janeiro, Imago, 1975.
- BRANDÃO, J. de S. Mitologia Grega. Petrópolis, Ed. Vozes, 1987.
- TERZIS, A. & HUBER, D. O grupo como objeto representado. In: Os arquitetos da nova renascença. São Paulo, Ed. Lemos, 1996.
FONTE: http://www.psicologianocotidiano.com.br/articulistas/articulista_descri.php?id=24
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA (PLATÃO 428 - 347 A.C.)
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